quinta-feira, junho 01, 2006

A PROSA DE UMA NOITE ESQUECÍVEL.



ANTIBIÓTICO

Cresce uma célula de razão, cheia de ponderação, reflexão, desilusão, orientação e tudo mais que desrime com Coração. É apenas uma célula equivalente a uma bactéria, a um micróbio, micro agente patogênico. Por enquanto. Sou vítima, sou paciente, não tenho anticorpos, me resta o meu corpo que ora pairou leve, mas que agora se preencheu de substâncias densas: mercúrio dos Gêmeos, azougue dos alquimistas. E o querer? Quero sim sobreviver. Se não te empenhares sobre nossas vidas, o querer é não poder e o não poder é minha vida comum morta.

(Me invisto de toda covardia p’ra empunhar tua caneta e te falar)

É fato que não é difícil lidar com células do tipo. Não quando o inquieto paciente se conscientiza desde logo, o logos. Talvez nem tanto antibiótico necessário. E o querer? Quero via oral, visual, auditiva. Quero uso tópico e o tópico é todo este eu pronto e doente de tanto pensar e de pouco amar-agir. Vem com a dose certa que será que sara? Claro que sara. A química se aperfeiçoa e todas as combinações podem reagir bem, quais sejam os sais de nossas carnes, alcalinos nossos líquidos ou ferruginosos nossos cortes. Nem tanto antibiótico p’ra desinfetar minhas idéias e meus impulsos, p’ra sanear este complexo e torná-lo etéreo ‘que nem’ o eterno.

Mas se te falta o que minha sobrevivência suspira, não me venhas com morfina. Meu bem-querer é no limite do meu bem-estar. Sem artificialismos. Se a carne é viva, se o nervo treme, se o músculo contrai, há plástica e há desejo e há paixão. Ao passo que p’ra amar, só estando razoavelmente lúcido. O suficiente p’ra considerar homicídio caritivo, branco, misericordioso... Deixa de drogas como estas. Como as da receita da noite de hoje, sem funcionalidade, sem originalidade. Sai e apaga a luz, pois se continuar assim, eu só isto que te peço. Ninguém, nada, nenhuma culpa ou responsabilidade.

Depois de morto, ainda terei uma vida inteira e longa adiante. Ora profunda. Ora leve. Ora alegre. Ora viva de novo p’ra outro(s).


CilvaH.

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