terça-feira, outubro 31, 2006

IN TO REACTION


Julio Carvalho

sábado, outubro 21, 2006

SOBRE AS CRÍTICAS.

"PARA EVITARES CRÍTICAS,
NÃO FAZ NADA
NÃO DIZ NADA
NÃO SÊDE NADA."
E.Hubbard

O ÚLTIMO PLANO


"O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito,
do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.
Isso que me alegra, montão.
E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro!
Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá gosto!
A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor!
Deus vem vindo: ninguém não vê.
Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre.
E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza."
Guimarães Rosa in Grande Sertão: Veredas

EM OUTRO PLANO HUMANO



Julio Carvalho

sexta-feira, outubro 20, 2006

PEQUENO QUASE FÚTIL MOVIMENTO LÍRICO

"Fechei os poemas, mas estou aberto para balanço."
Julio Carvalho

PRIMEIRO PLANO BRANCO



SEGUNDO PLANO CINZA


Foto by Rafael Gama

Julio Carvalho

quinta-feira, outubro 19, 2006

DE VOLTA AO AMOR?

"O aviso do amor
passa a noite inteira
dentro do meu corpo
piscando o olho.
Diz que vigia o meu sono
lá da escuridão dos mares
e que me pajeia até o sol chegar."
Adalgisa Nery - Adaptado





MÁXIMOS E MILÍMETROS

Não fale mais nada:
dentro de mim
você tem sido sempre
muito
Tenho saudades de não estar te vendo
tanto
e sinto ainda que muitas vezes
você será uma saudade minha.
Então assim, quantas saudades
você ainda não será?

Porque
com você passei a ser
uma criatura vestida
de corpo e alma.

Porque
com você passei a ser
metade sonâmbulo
e a outra metade
sonho.

Porque
com você passei a ser
o máximo do todo
e a descoberta
que isso tudo é o meu amor
e é também a sua vida.

E o mínimo que faço
sob cada pele
e milímetro meu
é querer fazer
sentido
ao lado seu.

Julio Carvalho

terça-feira, outubro 17, 2006

O COLETIVO ESTÁTICO


"O óbvio é um Pão de Açúcar que ninguém vê. "
Arnaldo Jabor.

ALCANCE

por todo zêlo
todo tempo
todo esmêro
e resignação
as coisas temperam
esperam nos dias
uma conclusão
inaudível
imprevista
nada a vista
nem terra nem nada
por enquanto
só os
horizontes
a linha feita
próxima ao céu
o tempo espera
irremediável
e sem nenhum
antídoto.

Julio Carvalho

O COLETIVO SINGULAR


Cia ltda.

Depois de dormir é ontem
E ontem, eu estive mui bem acompanhado
Todos estavam comigo
Todos os pensamentos
Todos-saudades

Ontem, fui aos melhores lugares
Fundo nos escaninhos desta memória
Ontem, estive com ele
Aqui e lá, na cama, à mesa, na areia, ao volante
Ontem, estive com elas
Em suas casas, comendo suas comidas, bebendo seus vinhos
Ontem, estive com eles
Desde a infância, durante o próximo encontro, desde sempre
Ontem, pude rir de todos
Celebrar o humor audaz, sem nexo e sem senso
Ontem, mortos e vivos regozijavam comigo
Brindávamos a vida de um dia passado
Ontem, os outros eram apenas outros
Na medida útil de suas presenças figurativas

Ontem, eu saí de casa
E voltei sozinho
Comigo, alguns tragos e alguns trocados
De quem se alimenta do metapossível
No afã de sustentar a coluna em pé

Por CilvaH

O IR, O VIR E O POR VIR



Tardes a menos

Há dias em que eu acordo
A tarde
E quero ver o mar
Além dos quadrantes
Dos martelos
Além da vista

E quero saudar o dia branco
Que se infiltra pelas frestas do concreto sujo
Que me abraça com alguma brisa

E quero outras cores
Orgânicas e vivas
Cores que têm cheiro

Há dias em que eu acordo
À tarde
E todos os megapixels
Além da nanopercepção
Cansam a paciência
Além do limite dos meus olhos

Renitentes por muito mais


Por CilvaH, na tarde do dia 14 de outubro de 2006.

quinta-feira, outubro 12, 2006

PAPÉIS AMASSADOS...

"E eu aqui tentando fazer desamassar os dias..."
Julio Carvalho



PAPEL

Não me importo:
em alguns dias eu amasso
o sexo
o complexo
a culpa
as coisas sem nexo
as folhas
de papel
as paredes
não corro riscos
e nem arrisco as orelhas dos livros
nem a saliva das pontas dos dedos
nem passo mais as páginas
estático
amasso
os dias
em branco
apático...

Julio Carvalho

quarta-feira, outubro 04, 2006

DIAS ENTREABERTOS...

acordo com algo
entre ressaca e angústia
dessas que uma coca-cola
resolve

Tenho a língua caduca
de sentir:
e de voltar
sempre.

Lugares comuns
in http://incrise.blogspot.com



ENTRADA

a tosse não resolve
mesmo que minha voz
não possa
ser posta
de jeito
direito

engasgo

mais um trago
e eu afogo

rogo aos deuses
nada mais

mais
uma
cura

a vida anda muito insegura...

(e que me abram as fechaduras!)

Julio Carvalho

terça-feira, outubro 03, 2006

PRA QUANDO O ÂNIMO SE DESINSTALAR


O PORQUÊ DE SEMOVENTE

Faço
O que eu penso

Ser certo
Ser errado

Fazer sempre
Seja qual for
Onde estiver
Quando acontecer

Qualquer resultado


Por CilvaH

sexta-feira, setembro 22, 2006

TRÊS PRIMAVERAS...

Um lugar


um lugar é um lugar é um lugar é um lugar é um...

Uma casa


Julio Carvalho

Um acaso


clique na imagem para ampliar e ler melhor

quinta-feira, setembro 21, 2006

ESTAR SOZINHO


Por CilvaH

quarta-feira, setembro 20, 2006

EU SÓLIDO...

"O escritor mora num deserto de silêncios e nem isso consegue denunciar
deserto cheio de palavras,
miragens de oásis."
FAMILIAS TERRIVELMENTE FELIZES - Marçal Aquino

SOBRE O POBRE J.C.
Adaptação do original SOBRE O POBRE B.B. de Bertold Bretch

Eu, Julio Carvalho, sou das montanhas verdes.
Minha mãe me trouxe para o mundo
Dentro do ventre. E o frio das montanhas
Estará comigo ao me cobrir a laje.

Na cidade de asfalto estou em casa e a caráter,
Com todos os últimos sacramentos
Ministrados: jornais, livros, vinhos:
Desconfiado, descrente e insatisfeito.

Sou amável com os outros.
E visto minha roupa como todo o mundo.
Digo: as pessoas são bichos de cheiro esquisito
Entendo: e daí? Também sou, no fundo.

Às vezes, nos lugares que experimento,
Coloco algumas pessoas num lugar,
E digo: em mim vocês têm, eu garanto,
Alguém a quem não podem alegrar.

Algumas tardes me reúno com amigos.
Tratamo-nos com respeito, então.
Eles dizem, com os pés à minha mesa:
As coisas vão melhorar. E não pergunto: quando.

Na madrugada cinza, postes mijam
E piam os pássaros, que são seus vermes.
Na cidade, meu copo se esvazia,
Largo um livro e durmo um sono leve.

Assentamo-nos, uma geração leviana,
Em prédios que quiséramos indestrutíveis
(assim construímos os arranha-céus em todos os lugares
E os grandes satélites sobre o Atlântico a nos divertirem).

Destas cidades ficará quem as atravessou, o vento!
A casa faz feliz quem nela come: quem a esvazia.
Sabemos sermos efêmeros
E que depois de nós o que virá será sem valia.

Nos terremotos futuros, que não seja meu destino
Deixar por amargura o meu lugar se apagar,
Eu, Julio Carvalho, largado nas cidades de asfalto,
Vindo das montanhas verdes, no ventre da mãe,
quarenta e um anos atrás.

terça-feira, setembro 19, 2006

IMPORTA TANTO SER AGORA?


"Qualquer curva de qualquer destino
que desfaça o curso de qualquer certeza..."
Arnaldo Antunes / Hélder Gonçalves / Manuela Azevedo

IMEDIATAMENTES

Qualquer coisa
Uma nesga
Um rasgo
Um atraso no tempo
Tento
Aumento de lente de aumento
preso
Cimento nos olhos
Excremento
O peso dos livros
Do conhecimento
Se do rasgo te vejo
No meio das coisas
Me vejo perdido
Fudido demais
Nesse momento
Entristecido
Perco
O coração
Pelo ouvido.

Julio Carvalho

sábado, setembro 16, 2006

ALGUNS VALORES

Pra ti, que não deve esconder estes olhos de girassol. Protegê-los é util e suficiente. Então, cuidado pra não errar no tom das lentes.



Onde valha alguma coisa

Não preciso mostrar teu valor
Tampouco algo meu
Não são nossos contornos,
Algum peso a essa altura,
Ou a beleza que deslumbrou
E rompeu qualquer prazo de validade
Válido pra o que se vê com olhos somente
Aliás, tua matéria se perpetua só;
Nas texturas das tuas cores
Dos teus aromas mais íntimos

Nem preciso trazer isto à cá.


E que é preciso?
Frases e fases se dissipam
Não quero o tudo que já tive


Não me assusta com tanta vaidade
Quem precisa?
Há muito sou teu
Quero te reconquistar sempre
Com meu corpo nu
Com minhas mãos limpas
Ouvidos e olhos abertos
Quero te reconquistar sempre do jeito que cheguei
Com pêlos e sem apelos
Só rogo por tua atenção

Disposição sempre
Porque não há contentamento no mais simples
Porque amar não é viver ou dividir tudo
Porque amar já deixou de ser tudo

Não exijo muito
Não quero muito além de ti
É bom um toque macio
Um cheiro cheiroso
Panos que chamem atenção
De todos

Nego o ego
Vasculho,
Tanto entulho assim
Te esconde demais
A vaidade é uma coberta
Que protege essências
Do calor
Do temor de que elas possam sublimar
A vaidade não sabe,
Mas essências não são térmicas
São sensíveis somente ao bem
O nosso próprio bem

Que mais precisamos então?

Empréstimos sim
Nosso mútuo mundo
Fechado por uns dias
Os primeiros
Sem terceiros
Onde qualquer sapato aperte
Onde o sal nos abençoe
Alguns dias pra esquecer que a vida passa
E lembrar que a gente sempre existe
E resiste.

CilvaH

sexta-feira, setembro 15, 2006

SONS A SÓ


Os acordes são outros

Bailar solitário,
Acompanhando a batida
O couro na madeira,
Minha pele espalma
Minha pele calejada,
Bailar solitário cansa
Fadiga ainda mais depressa,
Entendo que entedia

Furtaram a cor verde da maçã.

Não quero te chamar mais
Por tão pouco,
Talvez eu precise de mais
Mais de mil compassos
Pra perceber meu tempo,
Usar de força pra romper esta camisa
Preservativa,
Exaustiva!

Nunca tive maçãs verdes aqui.

Não me queiras mal
Não me desejas o pior
Por pior que eu faça,
Não querer ser si quando se pode ser o que quiser
Não hei de querer,
Peço por mim
Mas muitas vezes sou por nós,
Poesia pra ti.

CilvaH



Não saio deste tédio que me assola um pouco antes das 5 horas da manhã de 14 de setembro de 2006. Tanta saudade, mas ainda não fiquei doente.

quarta-feira, setembro 13, 2006

O PORQUÊ IR...

"Fiquei com ela a sós, só com ela e o vinho; e das trevas a asa ia-se então abrindo...
Somente através dela eu a vida sentia.
Que pecado haverá neste anelo de vida?
Eu, ela, o vinho branco, a noite sem limites: éramos terra, e chuva, e ouro, e azeviche."

IBN HAZM /994-1064 /Árabe
Tradução de David Mourão Ferreira
Vozes da Poesia Europeia -
I Colóquio Letras nº163

‘IXQ*

Há uma ida
Há uma palavra
Há um instante só
um único instante
uma direção
o alinhamento das palavras

justifica
a própria poesia
o contentamento
o disparo
o impulso
o motivo
a resposta das faltas

a presença
das dores
ausências
saudades
sorrisos
lamentos
a conseqüência dos atos
felizes
ou atrozes
das respostas doces
e das ferozes
das deliquências
demências
e loucuras
da falta de sentido
e de todo sentido
permitido
de todo modo
consentido
por esse verbo
- ora masculino,
ora feminino -
tamanho que é
e tão grande
que é chamado
paixão.

* Paixão em árabe.


Julio Carvalho

POR ONDE IR...


Nossa ética simples

O bem
Faz bem
O meu bem
Com bem vagar
Paciência bem vinda
Um sorrir bem estampado
Rompe teus lábios bem fechados
Da tua face abençoada pelo nosso suor
Com ar de satisfação, sossegas o teu bem feitor

Faço o bem para seguir adiante no teu caminho
Que mal esqueço teu passo bem dado
Quando nem bem passo adiante
Caio bem nos teus braços
Me abraça em bem
Marcho de bem
Ao meu bem
Traz bem
O bem

Por CilvaH

sábado, setembro 02, 2006

AVISTANDO A LUZ?












UM OLHAR SOL

a leveza é uma questão de observação
como olhar
olhar certo
o olhar certo
admira
olhar na mira do outro
acertar
definir o olhar
se fazer entender a olho nu
despercebido
como quem olha e despe
e não tira o corpo fora
deixando nenhuma sombra
nenhuma sobra de dúvidas
nenhuma escora
nenhuma demora em sobretudo
nenhum universo mudo
colocando tudo às claras
na luz
na forma
no gesto
no resto não fica nada escondido
fica tudo resolvido
cara a cara
sol profundo
uma descoberta um do outro:
iluminação.

Julio Carvalho

sexta-feira, setembro 01, 2006

SEGUE SECO


SUSPEITOS


Trapos e cheiro de coisa velha
Eu sou uma dúvida, uma suspeita
O medo me desanima
Certas prosas ainda incomodam meu humor
Eu não sei onde há um bom lugar
O certo lugar pra investir e me investir
Me vestir de paz

Quero colo (nada disso aqui)
Água para que eu pise na areia
Brisa para que eu repouse numa rede
Luz que inunde minha retina
Antes que eu chore diante de tua beleza
E da incerteza de te ter sempre e para sempre
Como somos para ti, como devemos ser

Não há mordaça que não incomode
(Por que eles nos fazem evitá-los?)
Não quero preterir, não quando prefiro
Quem fere sou eu, eu saio ferido
Entro nesta ciranda, fria roda morta
Gira sem esforço, gira de preguiça
Ninguém me faz d’outro jeito
No fim de tudo, faço do meu jeito
Faço da minha escolha, pelo que respondo
Jeito estéril de escolher e responder à vida

As flores já não trazem mais aquela desfaçatez
Perco o afã agora por não ter peito, dedos nem bedelho de descobrir este medo.

Por CilvaH, em São Paulo, 26 de agosto, começo de madrugada, de 2006

POLUIÇÃO LUMINOSA


Lume

Tenho saudades das noites vermelhas. Nelas vejo um pouco de nós. Não muito. Nelas enxergo o vazio resoluto. Meu desinteresse absoluto. Toda a aridez que desvenda este corpo nu. Ressecado pela umidade das noites vermelhas.

Anseio por tudo isto de novo. Novas lembranças antigas de noite. No reflexo de uma cor passional. Porque a lua deve irradiar noutro lugar. Talvez na tua varanda porque aqui ela traz mais penar. Outras saudades. Piores ainda.

A lua é pra quem se deleita, pra quem ama de perto, pra quem é consciente de sua felicidade...de seu destino.

Quero noites vermelhas.

CilvaH

VELAS PELO QUARTO DE NOITE


As velas trazem o que há de mais primitivo
O mundo, a soberba, o quase caos harmonioso lá fora
Porém cá, somente velas

Nada é comum ou imperceptível

Sinto saudades
Lembro boas lembranças
As velas trazem cheiro de mato, cheiro de sal
Ervas e o som de ondas a exautar o céu cravejado

As velas me rodeiam de madeira

Prosas simples e tacanhas
Entre olhares que se enxergam através da luz que vibra
Um som de chuva ou grilos ou nada
(somente a umidade no açaizal)

Estive com ela, com velas
Nem lembro ao certo
Certo é que não divido com ele
O breu desta vez

Mais afiado
Menos lúdico
Nada brejeiro
Quase desesperador
Todo destoante
Diante do mercúrio e do ruído dos motores

Sem lirismo ou intenção, velas só pra iluminar
Velas, enquanto durem, para eu enxergar
Pois perdi o ânimo...o êxito... e a luz própria.

CilvaH

segunda-feira, agosto 28, 2006

INANIÇÃO AFETIVA











UMA OUTRA COISA

Uma outra fome
Uma outra falta
Falta
Falta falar sobre as faltas que mais faltam
Das faltas de fora
E das faltas de dentro
Mas agora
Eu falo mais
das faltas de dentro
Do medo
De tudo o que se faz segredo
Desalma
Não acalma
Uma imagem do nada
Um buraco sem fundo
O fundo do rio mais abaixo da lama
Muito mais que nada, nada, nada...
Coisa que não se enche
E quanto mais perto a fome
menos preenche,
mais se acaba,
mais incomoda.
E dessa distância
muita gente nem pensa
nem sabe
estar próxima.

Julio Carvalho

sábado, agosto 26, 2006

SEM MAIS


Após mais de um mês sem post, segue a legenda da imagem:

Chato é estar triste assim

Nem sempre a tristeza me incomoda
Decerto ela até distrai
Concentra
Empenha e me preenche de vida
de satisfação de ter motivos

Para viver
Amar, esperar
e esperar

Mas hoje a tristeza é chata
Nem me diverte, nem me conduz
A melancolia é inerte agora

Só, nesta cama, sobre colchas frias
Quero ser novo
Menino de novo
Esperar meu pai chegar
Ouvir minha mãe falar
Sorrir e dizer de tudo, de todos

A tristeza me deixa pobre
Inutilizado
Cheio de sem mais
Nem por menos vida.

CilvaH

domingo, julho 02, 2006

CADA CENTÍMETRO QUADRADO



"O corpo é um barco que navega na sua própria pele."
Julio Carvalho

NOS LIMITES
Para CilvaH

A primeira pele
acontece
em cada centímetro quadrado
os poros acelerados
o prazer aos poucos
percebe
e cada contato
aparece
como
uma
descoberta.

A segunda pele
é quando
o tato responde
aos poros abertos
e o trabalho é maior
o toque é mais lento
o sentimento
maior que tudo
de tudo
e o momento
é um resumo.

A terceira pele
acontece
no insustentável
sedento
e transparece o desejo
intenso
e a forma
faz juz
a toda vontade
e o encaixe
agora é outro
e um só corpo
é pouco
é preciso muito mais
é preciso
o quase tudo
dentro
junto.

A quarta pele são
os dois corpos
unidos
atracados
são barcos
em alto mar
navegando
juntos
cada um
no seu limite
e neste porto
o corpo
insiste.

A quinta pele
é uma palavra:
universo.

Julio Carvalho

"O tempo é um barco que navega na sua própria água."
Do documentário "O Zero Não é Vazio"

sexta-feira, junho 16, 2006

ENTRE FASES.COM OU SEM



DUBLÊ DE CORPO/DUBLÊ DE OUTROS

Dublê de fogo
cruzado
o mesmo corpo
atirado pra todo lado
com muita gente junto
dentro
cada hora a vez
de um
do outro
artista ator
mentor
arranjador
arranjar a dor
e fingir
suas partes
falsas
falas
fazendo-se
fodendo-se
todas
caras
e bocas
- das bocas pra fora -
agora
tolas
máscaras
enfeites
arremates
cada fala, jeito, coisa
que não cola mais
dentro
de cada um cada todos
cada outro
num cadafalso
armadilha
ilha
desumana
de se habitar
o pior
é sempre o rosto
do outro
mais
alarme
alarde
falso.

Julio Carvalho

quarta-feira, junho 07, 2006

ENTERRADO E SUPLANTADO


Em covas vivas


Escuro e mãos frias
Lua quase cheia e pés quentes
O que me consome agora é estranho

Entranha no que penso

Revolta o que sinto

Faz-me mais humano
Posto que me põe a ferver em reflexões
Que me atordoa e me aperta de sentir

Faz-me parecer mais inútil
Posto que a distância dilata minha impotência
Que a saudade me paralisa num lembrar

Se sou mais Homem
Se estou menos funcional
Hei de não deixar de esperar
Uma vez ou duas ou mais

Uma vez que a falta de expectativa
Enterra minha ativa vida
Numa cova passiva de morrer
Antes do enterro deste vivo ser.


Às 5h, em setembro,
CilvaH.

OUTRA PESSOA


A TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR

Ele é legal
Ele é irresponsável
Ele é quase saudável
Ele é poeta
Ele é sensível
Ele é irascível
Ele é maluco
Ele sabe de tudo
Ele é preguiçoso
Ele é agitado
Ele é nervoso
Ele está cansado
Ele é boa gente
Ele é o que falam
Ele é o que pensam
Ele é ele mesmo
Ele é diferente
Ele sabe pouco
mas sente tudo
sempre
Ele é um adulto
que muitas coisas
de criança
ainda
não aprendeu
mas mesmo assim
ele é bom

Ele sou eu.
Julio Carvalho

sábado, junho 03, 2006

SEM DOCUMENTO

Sem disposição pra nada que se faz consigo. Sozinho, então, escrevo com muita inspiração e pouco talento, parcas idéias...


INOMINADO

Ligo,
chamo,
não respondo
Engulo,
inspiro,
tento, mas não esqueço
Cheiro,
recordo,
recorto, fito longe...
Aqueço,
fricciono,
emputeço e me apaixono

Quanta oscilação!
Emoções instáveis
O amor linear, progressivo não sustenta o balanço dos impulsos
A equação de afãs, faltas ou desejos.

Será desatenção?
Quão subuumano é aprender a conviver com a dor
Seja qual for, meus dentes, minha garganta, minha cabeça...
Minha alma não suporta

Despaixão?
Esse anverso nem teima em se aproximar
Um pouco de paz faz bem
Um tanto de beijo pra quem tem

Isso mesmo!
Sinto falta de
Salivo por
Fecho os olhos para
Prendo o fôlego
Que nem tu
Nem tu pra mim
Nem eu pra ninguém
Tal beijo sem cheiro
Tal língua mordida
Até onde...
Até quando... resistir.

CilvaH

DA CRIAÇÃO.


POEMA PRÉ ARTE

Ai da arte
Se não for
Se não fizer
Se não ousar...

Ai da arte
Se não puder
Se não se mostrar
Se não alcançar
quem não puder ver...

Ai da arte
Se não puder ser
Se não aparecer
Se esmorecer...

Ai da arte
Se sumir
Se denegrir
vir ao chão
e sucumbir...

Ai da arte
que sobrevive
aos trancos
- mais barrancos
arrancando das almas criativas
ilusões de realidades
materializadas na pele
dos corpos sensíveis
amarrados à escravidão
da mesma arte
e a todo tipo
de prazer...

A arte é sempre algo a ser feito
esperando
acontecer.
Julio Carvalho

sexta-feira, junho 02, 2006

DE UM MINUTO PRA OUTRO



A idéia surgiu faz tempo, o texto também. Da idéia para o texto, horas se passaram, mas motivado pelo que sinto e tu sabes o quanto sinto, materializar este pequeno ensaio em papel e caneta não demorou mais do que um minuto:

De minuto

Um tempo pra ti
Meu tempo todo aqui
Desde um outro minuto
Quando um pensar devoluto
Se fez só teu.

Queria mais do que Lógica. Amei
Agora que amo, desejo razão, ciso
Para manter-me vivo
Segundos, durante o tempo distante
Preservar o bem amado, o bem amante.

Neste minuto, que me pertence?
Teus sonhos, teus gritos, teu consciente?
Tu, ainda que plasma, em cores tênues
Sempre conto contigo num penar de minuto
E me recolho sozinho num sorrir diminuto.


CilvaH,

Num dia de inverno de setembro de 2005, às 5h.

QUANDO TEMOS DOIS LARES É ASSIM

CHOQUE

Meu sangue redistribui seu pulso
Tudo aqui se aquece
Do suspiro ao curto sufoco
Lembro de coisas, fatos que não são reais
Eles se desdobram não muito além.

Neste vôo, porém, não há registro algum
Fecho os olhos e o que enxergo
É nada além da minha verdade
Estou no ar e não fomos pelos ares
Novas histórias, mesmo as oníricas,
Escrevem-se com os pés no chão.

Sigo meu velho rumo novo, de novo
Mas só alguns ficam pra trás
Outros estão impregnados
Até no sangue, que há pouco sentia forte
Choque nas pontas dos dedos
Latejando de dor, de saudades, de esperança

Agora, outros são irreais
Então, sigo sonhando com nossas coisas
Nossos fatos sempre presentes e tão legítimos.

Por CilvaH.

quinta-feira, junho 01, 2006

OS ACUSADOS.



PROPRIEDADE

Um outro,
outro,
e mais um outro...
Quantos são criados
e acusados dentro da gente
da culpa que se cria
cada um tem sua cria
seu filho manso
que não fala
mas apronta.
A culpa é um sintoma agudo
quando a gente
comete
qualquer
afronta.
É o seu próprio dedo
que o tempo todo
aponta...

Julio Carvalho

A PROSA DE UMA NOITE ESQUECÍVEL.



ANTIBIÓTICO

Cresce uma célula de razão, cheia de ponderação, reflexão, desilusão, orientação e tudo mais que desrime com Coração. É apenas uma célula equivalente a uma bactéria, a um micróbio, micro agente patogênico. Por enquanto. Sou vítima, sou paciente, não tenho anticorpos, me resta o meu corpo que ora pairou leve, mas que agora se preencheu de substâncias densas: mercúrio dos Gêmeos, azougue dos alquimistas. E o querer? Quero sim sobreviver. Se não te empenhares sobre nossas vidas, o querer é não poder e o não poder é minha vida comum morta.

(Me invisto de toda covardia p’ra empunhar tua caneta e te falar)

É fato que não é difícil lidar com células do tipo. Não quando o inquieto paciente se conscientiza desde logo, o logos. Talvez nem tanto antibiótico necessário. E o querer? Quero via oral, visual, auditiva. Quero uso tópico e o tópico é todo este eu pronto e doente de tanto pensar e de pouco amar-agir. Vem com a dose certa que será que sara? Claro que sara. A química se aperfeiçoa e todas as combinações podem reagir bem, quais sejam os sais de nossas carnes, alcalinos nossos líquidos ou ferruginosos nossos cortes. Nem tanto antibiótico p’ra desinfetar minhas idéias e meus impulsos, p’ra sanear este complexo e torná-lo etéreo ‘que nem’ o eterno.

Mas se te falta o que minha sobrevivência suspira, não me venhas com morfina. Meu bem-querer é no limite do meu bem-estar. Sem artificialismos. Se a carne é viva, se o nervo treme, se o músculo contrai, há plástica e há desejo e há paixão. Ao passo que p’ra amar, só estando razoavelmente lúcido. O suficiente p’ra considerar homicídio caritivo, branco, misericordioso... Deixa de drogas como estas. Como as da receita da noite de hoje, sem funcionalidade, sem originalidade. Sai e apaga a luz, pois se continuar assim, eu só isto que te peço. Ninguém, nada, nenhuma culpa ou responsabilidade.

Depois de morto, ainda terei uma vida inteira e longa adiante. Ora profunda. Ora leve. Ora alegre. Ora viva de novo p’ra outro(s).


CilvaH.

quarta-feira, maio 31, 2006

DA CÓLERA...



DA CÓLERA
(Réplica "Sobre a Raiva, uma adaptação... ")

Sou menos irascível do que triste e ainda posso ser mais ditoso do que mofino. Que a cólera me favorece? Nada. É apenas um ímpeto a mais. Bala desperdiçada quando temos munição extra. Explode energia cinética rumo a alguém, que é fácil de ser alguém amado, que pode ser ferido,que pode reagir, que pode me tornar estanque finalmente. Repouso pós-alarde.
A cólera ferve, transpira e coça, incomoda. Mais os terceiros do que os primeiros. Conveniente animus de se conduzir no cerne dessa vida tão esburacada. Ter ira é fácil e me interessa, pois a uso como escudo, não para me defender de todo mal, mas para retardá-lo. Sim, porque fúria que cura mal não existe, ele persiste e volta, mais cedo ou mais tarde. Se voltar mais tarde, o espírito então ordeiro se encarrega. Se voltar mais cedo, a cólera fede e pode doer, até sangrar, até morrer e até matar.
Há de haver algo reflexo. Uma parede, um copo, um corpo para golpear. Uma flor, um freio, um acelerador, para pisar. Mas se isto foge de meu alcance, há pelo menos, um ouvido pra escutar ou uma tela pra se ler meu berro, pode ser em pessoa, em telefone ou em ciberespaço. Que me preocupa o resto do mundo?
Quando tenho raiva, mato todos como Mao, remanesço sozinho, então o resto do mundo é nada além deste colérico.
Agora estou sozinho, o mundo sou eu. Este balbúrdio furiocêntrico. E neste micro globo não cabe ninguém além de mim e do meu pacote. Dor, hormônios, quiçá excremento. E o coração? Por enquanto é apenas um músculo que me bate e me sufoca. Melhor arrancá-lo e devolvê-lo ao seu habitat, nem sei onde. Sei que não é neste mono ambiente onde ainda permaneço. Vou à janela de onde vejo o colorido. Vou defenestrá-lo.
Vazio, a cólera me deixou cheio de nada, mouco de tanto vozeado estridente típico de quem está irado. A cólera me tirou a pele, não sinto mais o calor e no frio congelo. A cólera pode até cortar a língua fora por desespero, por destempero. Ato fogo em tudo pra me obrigar a brigar pela redenção. Quebro esta membrana, pulo pela janela. Não espero por ninguém. A cólera é toda minha, quem a cultivou fui eu. Cada qual que ache o ponto certo onde cair e que seja numa fonte de cal para arrefecer cada ácido ser.
Trinta minutos para concluir. Meia hora para fechar aquele espaço e se entregar às coisas da alma, aos bens do espírito. O tempo suficiente para ouvir uma sinfonia, para sorrir uma criança, para ler Quintana, para responder obrigado, eu te perdôo. Para convencer que eu te amo porque sou triste, porque tu me fazes feliz, porque tu me fazes sentir e refletir que sinto raiva quando sou mais ser do que humano.
CilvaH


SOBRE A RAIVA...

Uma adaptação...

Eu tenho raiva.
Eu ando com muita raiva.
Ainda mais sabendo que as pessoas quase não sabem mais amar
e mordem em vez de beijar e batem em vez de acariciar.
Talvez porque percebam como é fácil o amor deteriorar de repente.
Assim ele torna-se impossível, impraticável.
Então as pessoas o evitam e procuram consolo na raiva,
no medo ou na agressão que são coisas que estão sempre à mão e disponíveis.
E talvez, às vezes, não saibam de todos os fatos.
Raiva e ressentimento podem bloquear o caminho da gente.
Eu por exemplo, ainda não aprendi muito bem a lidar com isso.
Tenho ainda algum ódio a ser desperdiçado. Jogado fora. No lixo mesmo.
Ódio por muitas coisas. Internas. Externas. Mesquinhas. Poucas. Incômodas.
Bem chatas. Ódio, por exemplo, quando as coisas não são como a gente quer, quis, queria.
E eu queria transformar isso. E desejaria não ter que fazer isso sozinho.
Que não tivesse realmente de ter que fazer isso sozinho.
Com alguém por perto seria bem mais fácil, mais doce, mais calmo.
Eu sei disso. Porque as coisas não são como a gente quer. E a raiva é inflamável, sabia?
Para incendiar a raiva, basta o ar e a vida e a raiva engole e sufoca ambos. E é real. A fúria.
Mesmo quando não é real pode mudar você. Transformar.
Moldar você, fazendo de você algo que você não é, e nem gostaria jamais de ser.
Então o outro lado dessa história toda é a outra pessoa que você se torna.
Um dia ainda vai acontecer de alguém, podesereu,
acordar e perceber que não tem medo da sua jornada.
Vai entender que a verdade, na melhor das hipóteses,
é uma história mal contada e que a raiva, como o crescimento,
perdas e ganhos da vida, vêm em jatos deixando em seu caminho
uma nova possibilidade de aceitação. E uma promessa de calma.
Um mar pós tempestades. Eu quero essa calma de volta.
Alguém que me traga de volta. Alguém com amor. Sem raiva. Só amor.
Exclusivamente.
Mas no final, o que é que eu sei realmente sobre tudo isso?
Sou só uma criança de 40 anos...

Júlio Carvalho

ALGO PERMANENTE



Um texto menos atual, mas que retrata sensação parecida a que vivo hoje, quando a esperança teima em escapar.
Nem frio faz nesta madrugada do dia 14 de fevereiro de 2006 aqui em São Paulo.

Não me lembro bem o que acontecia há um ano. Sei que me preparava pra me despedir de todos que amava (ainda amo os mesmos, até mais uns). Ingênuo, pra não admitir outro adjetivo, cruel. Acreditava: destes todos, um poderia se dissipar. Não aconteceu. Aprendi uma então novidade logo depois, me convenci que amar é atividade estritamente (sobre) humana, independe de tempo, de espaço ou de força maior.

Ainda me questiono e pauso e penso varias vezes antes de delimitar minhas afirmações e concepções acerca deste sentimento. Melhor pensar de menos. Melhor escrever e descrever minhas sensações hoje... agora.

Escrevo pra te dizer que tua ausência me mata um pouco. Sim, me tira a vida lá de fora, me aprisiona nas lembranças tuas por cada metro cúbico deste meu e porquê não nosso espaço, tão impregnado dos teus passos, do teu sono, do teu olhar com ou sem lágrima, do teu riso com ou sem ironia.

Escrevo pra tentar deitar e dormir nesta quase manhã que ameaça romper sem te ver aqui do meu lado, na minha frente ou por cima de mim. Dificilmente! Ainda vou derramar muito deste choro ali. Porque me encaixo rápido e aprendo mais rápido ainda, como sei que sei até melhor do que tu a acatar os revoltantes hiatos entre nossos encontros. Mas não há hábito que sobreviva a costumes novos, curtos, menos freqüentes e muito melhores.

Desaprendo. Ignoro tudo, todos os caminhos sabidos quem me levem longe-perto de ti. Quero-te perto e perto. Rebelo. Porque sobreviver à distância é acatar e se negar a qualquer possibilidade que não a de te ter de qualquer jeito. Mas se despedir sem o verdadeiro desejo de implodir o mundo é se resignar diante da realidade inevitável. Ainda que o mundo seja bem maior do que tudo isso. Ainda que mesmo assim, ele não possa com a gente.

Estes fevereiros de carnavais se repetem duramente há algum tempo pra quem viveu pouco mais de duas dezenas deles. Amar, lutando mesmo que o bloco esteja lá fora e nem a janela não me pareça um atrativo. Prefiro assim, sem folia de trio, mas na cadência de nós dois.

Escrevo porque bato meu tambor aqui e ele soa, alcança muito longe. Escrevo porque os ecos deste ressoar chegam nos teus ouvidos em qualquer lugar. Escrevo porque choro, entalo, limpo, sufoco, inspiro, deixo subir e deixo lágrimas descerem. Escrevo pra retardar o irremediável dormir sozinho.

Lembra do que Jobim cantou ontem pra gente: ‘cada volta tua (ou minha) há de apagar o que essa tua ausência me causou’.

Até. Logo. Espero.
CilvaH

ALGO NOVO

Uma descoberta musical: melodia inovadora e vocalizações concretas. Versionadas por este aspirante.

QUEM TEM MEDO DE SE ESCONDER?
(versão de Hide and Seek, de Imogen Heap)


Onde estamos? Que acontece afinal?
A poeira apenas começa a formar
Círculos em recortes no tapete, pondo-se, sentindo-se
Você revolve meu corpo mais uma vez e limpa meus olhos

Isto não pode estar acontecendo,
justo quando ruas congestionadas confundem as pessoas
justo quando íamos parar e segurar suas cabeças que pendiam

Trens e máquinas de costurar
Esconde-esconde
Todos esses anos, eles estiveram aqui primeiro.
Marcas de óleo aparecem nos muros
Onde antes momentos de prazer se recostaram
A invasão, a insensibilidade avassaladora desta vida monótona.

Sangue e lágrimas
Eles estiveram aqui primeiro

E o que você diz
Que você quis dizer com todas as palavras? Decerto você quis.E o que você diz?
Que tudo isso foi pelo melhor possível pra nós? Ah, decerto foi mesmo.
E o que você diz?
Que é tudo o que precisamos? Foi só você quem decidiu assim
E o que você diz?
E o que ela disse afinal?

Você não dá a mínima, você não esta nem aí nem aqui mais...

Fala sem sentimento, não eu não acredito em você
Notas bem valorizadas insistem em saltar da sua boca
Dizer meio doce, palavras tiradas do folhetim

Você não dá a mínima, você não esta nem aí nem aqui mais...

CilvaH

segunda-feira, maio 29, 2006

RECONVERSANDO...

"Usar as palavras
é como usar um bom perfume -
tem que se saber quando
e onde.
Todo exagero
pode enjoar
ou incomodar
demais."
Julio Carvalho






REVELAÇÃO
(ao CilvaH)

O ímpeto
é o que me cabe melhor -
de mim saem palavras muitas
algumas
que viram poemas
calmas
tranquilas
outras
repentinas
lâminas de vidro
fios de corte rápido
sangram a pele
marcam
e doem
profundamente
(as dores mais fundas
são as que as lembranças guardam mais)
Mas
eu tenho um gênio do cão
sei

eu sei sim
mas mesmo sendo cão
eu sei quando me render
e eu me rendo ao sentimento
que tenho pelos amigos verdadeiros
a cada dia que vivo.
é esse sentimento
afinal
que me mantém
vivo.


Julio Carvalho

domingo, maio 28, 2006

DESCONVERSANDO...

Desencontro
(ao Júlio)


Melhor um corte verdadeiro,
Melhor qualquer crítica mal elaborada, mas verdadeira,
Melhor toda a inevitável impaciência verdadeira,
Melhor aquela reação impulsiva, desastrosa e verdadeira.

Quero a desatenção
Quero a ignorância
Prefiro a má educação
Prefiro a vã grosseria.

Não que eu não aceite desculpas
Não que eu pense elas não serem devidas
São tão devidas quanto inócuas.

Desculpas por mais sinceras
Por melhor pedidas, suplicadas, imploradas...
Não são tréplicas melhores do que atos primários de verdade
Primitivos, eles são nós.

Aos que me cercam e me querem bem
Ofereço afeto, minha amizade, na condição de serem sempre os mesmos,
Gente de palavras e ações verdadeiras
E assim os tenho, exatamente por serem do jeito que são.

Quanto às desculpas
Ainda que leais, elas são a tentativa de ser mais o outro do que si próprio
( e que aporrinhador deve ser não gostar de ser do jeito que se é)
E eu não preciso de mais de mim, preciso de vocês mesmos.

CilvaH

sábado, maio 27, 2006

ABSTRACIONISMOS



RETRATO ABSTRATO

o porta-retrato
sobre a cômoda
incomoda
tanto
quanto a perna
daquela dona
sentada
numa piscina
redonda.


Julio Carvalho

quarta-feira, maio 24, 2006

AS CORES INVERTIDAS...



DEGUSTAÇÃO
(...ou o homo politicus e o povo)

O vinho tinto
Vermelho
O vinho branco
Amarelo
O vinho vagabundo
- esse é como o povo -
não tem cor.

segunda-feira, maio 22, 2006

PARA UM AMIGO DE BELÉM

OS OUTROS E OS MESMOS
(Para Pill)

Andamos pelas madrugadas
Bebendo, rindo, divagando...
Se entendendo e discordando
Às vezes apenas arrastando os pés, as cadeiras.

Nos postes, luzes apagadas, referências vazias
Um olhar, com ou sem ou só riso
Já houve lágrimas, houve conselhos, saudades...
Somos nossas escolhas.

Ares de desbravo, toques de frágil vanguarda
Desejos e anseios de gerações chocadas
Modelos de construção, de pensamento, de saber e de viver,
Somos os outros.

Lembra quando os dias tardavam, quando se desconhecia Deus(es)
Cosmos, pedras, bactérias, fungos e poeira de asfalto molhado...
Improbabilidades, como os falsos hippies competitivose, céticos religiosos
Ainda somos os mesmos.

Um dia perto, um dia de vitória, outros milhares
Algumas horas de desabafo, quando cá incineram os ressentimentos
A hora do parto, a hora da unção, das doenças e das glórias,
Somos amigos.

Voando sobre a história desses homens
Vê-se pouco quando se tem miopia
Move-se torto quem é sinistro
Às vezes ouvimos sugestões, às vezes músicas, outras vezes poesia.

CilvaH.

terça-feira, maio 16, 2006

PEDAÇOS DO CHÃO

"O tempo do amor é irrecuperável."
Vinícius de Moraes



SOLO

as raízes crescem
aparecem raras vezes
aparentes
da terra
de onde vieram
escondidas nutrem
mentiras
verdades
oportunidades
teias
veia de crescimento
mesmo que não regada
regradas raízes
são as do pensamento
as raízes
são imóveis
de propósito
algum movimento
não é possível
porque não existiria
a força do seu
reconhecimento
brotando
as raízes brotam
algumas se esgotam
porque não estavam
em solo bom
e as raízes
precisam
de coisa boa
para ficar
ali
as raízes
se escondem
mas
por mais que você esqueça
as raízes
estão lá
escondidas
livres
crescem
mesmo que não
dignas
de nota
são precisas as raízes
necessárias
familiares
as raízes são a sua forma
de ir e voltar
pela mesma
porta

sexta-feira, maio 12, 2006

O DÉCIMO SEGUNDO DIA




















DIA 12

Uma dúzia de dias.
Uma dúzia mais cinco anos para quem se ama.
Porque quando amamos, não basta saber que outros podem ser melhores.
Mas também não basta minha reverência.
Quero que todos saibam, lembrem, admirem,
torçam e até amem esta pessoa também.

Quem ninguém tem, nada tem
Nem um dia
Eu tenho um ano,
meus quase vinte três,
teus dezessete e muito mais.
Nem um dia a menos
Sob tua luz, sem somatizar,
eu apenas somo
o que sou e o que somos
para continuar a vibrar
ainda que seja noite fria de outono.

Amo e penso que quem merece o meu bem querer,
é merecedor do bem querer de todos que quero bem.
É o desejo de dividir.
Não tudo.
Nem porque não suporto tudo sozinho.
Mas dividir na medida em que os outros possam enxergar,
apreender e sentir o mínimo do que sinto agora, para quem sabe,
poderem compreender e realizar o mínimo do que sou feliz por te ter,
poder me conter e contar contigo.

Hoje seria mais um dia.

Não é, e nem não mais será.

CilvaH

quinta-feira, maio 11, 2006

VERSOS REVERSÍVEIS

"A vida,
assim como a arte,
não ama os covardes."

Do filme Vinícius -
Adaptação de Julio Carvalho



nuvens
no alto
muito alto
de longe o cimo
visto branco
só a ponta
em volta
nuvens
escondendo
as verdades
mais distantes
estão no alto
muito alto
é preciso
afastar
nuvens

Julio Carvalho

domingo, maio 07, 2006

IDAS E VINDAS.

Restaurar
Voltar ao lugar
A forma e formato
Sem morte, sem sorte
Nem maior, nem menor
Somente o Eu, afastar outros
Todos os extras, ultras ou aquém
A quem interessar, este mesmo puder
Desocupar para servir e ser vil e ser visto
Quantos olhos forem, a mesma única matriz.

CilvaH

segunda-feira, maio 01, 2006

PRIMEIRO TEMPO


Somos dois
e cada um é outros...










Número um.
Primeiro tempo.
Primeiro o rumo dos acontecimentos.
Primeiro turno.
Primeiro ato.

Primeiro assalto
- mas sem nenhum nocaute.

Primeiro sopro de vida e de letras.
São as coisas novas.
Nossas
primeiras palavras

nascendo
aqui.

Julio Carvalho

domingo, abril 30, 2006

CIRCOS MÍNIMOS
















que palhaçada
circo feito
lona montada
e não deu absolutamente
em
nada?

Julio Carvalho