sexta-feira, setembro 22, 2006

TRÊS PRIMAVERAS...

Um lugar


um lugar é um lugar é um lugar é um lugar é um...

Uma casa


Julio Carvalho

Um acaso


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quinta-feira, setembro 21, 2006

ESTAR SOZINHO


Por CilvaH

quarta-feira, setembro 20, 2006

EU SÓLIDO...

"O escritor mora num deserto de silêncios e nem isso consegue denunciar
deserto cheio de palavras,
miragens de oásis."
FAMILIAS TERRIVELMENTE FELIZES - Marçal Aquino

SOBRE O POBRE J.C.
Adaptação do original SOBRE O POBRE B.B. de Bertold Bretch

Eu, Julio Carvalho, sou das montanhas verdes.
Minha mãe me trouxe para o mundo
Dentro do ventre. E o frio das montanhas
Estará comigo ao me cobrir a laje.

Na cidade de asfalto estou em casa e a caráter,
Com todos os últimos sacramentos
Ministrados: jornais, livros, vinhos:
Desconfiado, descrente e insatisfeito.

Sou amável com os outros.
E visto minha roupa como todo o mundo.
Digo: as pessoas são bichos de cheiro esquisito
Entendo: e daí? Também sou, no fundo.

Às vezes, nos lugares que experimento,
Coloco algumas pessoas num lugar,
E digo: em mim vocês têm, eu garanto,
Alguém a quem não podem alegrar.

Algumas tardes me reúno com amigos.
Tratamo-nos com respeito, então.
Eles dizem, com os pés à minha mesa:
As coisas vão melhorar. E não pergunto: quando.

Na madrugada cinza, postes mijam
E piam os pássaros, que são seus vermes.
Na cidade, meu copo se esvazia,
Largo um livro e durmo um sono leve.

Assentamo-nos, uma geração leviana,
Em prédios que quiséramos indestrutíveis
(assim construímos os arranha-céus em todos os lugares
E os grandes satélites sobre o Atlântico a nos divertirem).

Destas cidades ficará quem as atravessou, o vento!
A casa faz feliz quem nela come: quem a esvazia.
Sabemos sermos efêmeros
E que depois de nós o que virá será sem valia.

Nos terremotos futuros, que não seja meu destino
Deixar por amargura o meu lugar se apagar,
Eu, Julio Carvalho, largado nas cidades de asfalto,
Vindo das montanhas verdes, no ventre da mãe,
quarenta e um anos atrás.

terça-feira, setembro 19, 2006

IMPORTA TANTO SER AGORA?


"Qualquer curva de qualquer destino
que desfaça o curso de qualquer certeza..."
Arnaldo Antunes / Hélder Gonçalves / Manuela Azevedo

IMEDIATAMENTES

Qualquer coisa
Uma nesga
Um rasgo
Um atraso no tempo
Tento
Aumento de lente de aumento
preso
Cimento nos olhos
Excremento
O peso dos livros
Do conhecimento
Se do rasgo te vejo
No meio das coisas
Me vejo perdido
Fudido demais
Nesse momento
Entristecido
Perco
O coração
Pelo ouvido.

Julio Carvalho

sábado, setembro 16, 2006

ALGUNS VALORES

Pra ti, que não deve esconder estes olhos de girassol. Protegê-los é util e suficiente. Então, cuidado pra não errar no tom das lentes.



Onde valha alguma coisa

Não preciso mostrar teu valor
Tampouco algo meu
Não são nossos contornos,
Algum peso a essa altura,
Ou a beleza que deslumbrou
E rompeu qualquer prazo de validade
Válido pra o que se vê com olhos somente
Aliás, tua matéria se perpetua só;
Nas texturas das tuas cores
Dos teus aromas mais íntimos

Nem preciso trazer isto à cá.


E que é preciso?
Frases e fases se dissipam
Não quero o tudo que já tive


Não me assusta com tanta vaidade
Quem precisa?
Há muito sou teu
Quero te reconquistar sempre
Com meu corpo nu
Com minhas mãos limpas
Ouvidos e olhos abertos
Quero te reconquistar sempre do jeito que cheguei
Com pêlos e sem apelos
Só rogo por tua atenção

Disposição sempre
Porque não há contentamento no mais simples
Porque amar não é viver ou dividir tudo
Porque amar já deixou de ser tudo

Não exijo muito
Não quero muito além de ti
É bom um toque macio
Um cheiro cheiroso
Panos que chamem atenção
De todos

Nego o ego
Vasculho,
Tanto entulho assim
Te esconde demais
A vaidade é uma coberta
Que protege essências
Do calor
Do temor de que elas possam sublimar
A vaidade não sabe,
Mas essências não são térmicas
São sensíveis somente ao bem
O nosso próprio bem

Que mais precisamos então?

Empréstimos sim
Nosso mútuo mundo
Fechado por uns dias
Os primeiros
Sem terceiros
Onde qualquer sapato aperte
Onde o sal nos abençoe
Alguns dias pra esquecer que a vida passa
E lembrar que a gente sempre existe
E resiste.

CilvaH

sexta-feira, setembro 15, 2006

SONS A SÓ


Os acordes são outros

Bailar solitário,
Acompanhando a batida
O couro na madeira,
Minha pele espalma
Minha pele calejada,
Bailar solitário cansa
Fadiga ainda mais depressa,
Entendo que entedia

Furtaram a cor verde da maçã.

Não quero te chamar mais
Por tão pouco,
Talvez eu precise de mais
Mais de mil compassos
Pra perceber meu tempo,
Usar de força pra romper esta camisa
Preservativa,
Exaustiva!

Nunca tive maçãs verdes aqui.

Não me queiras mal
Não me desejas o pior
Por pior que eu faça,
Não querer ser si quando se pode ser o que quiser
Não hei de querer,
Peço por mim
Mas muitas vezes sou por nós,
Poesia pra ti.

CilvaH



Não saio deste tédio que me assola um pouco antes das 5 horas da manhã de 14 de setembro de 2006. Tanta saudade, mas ainda não fiquei doente.

quarta-feira, setembro 13, 2006

O PORQUÊ IR...

"Fiquei com ela a sós, só com ela e o vinho; e das trevas a asa ia-se então abrindo...
Somente através dela eu a vida sentia.
Que pecado haverá neste anelo de vida?
Eu, ela, o vinho branco, a noite sem limites: éramos terra, e chuva, e ouro, e azeviche."

IBN HAZM /994-1064 /Árabe
Tradução de David Mourão Ferreira
Vozes da Poesia Europeia -
I Colóquio Letras nº163

‘IXQ*

Há uma ida
Há uma palavra
Há um instante só
um único instante
uma direção
o alinhamento das palavras

justifica
a própria poesia
o contentamento
o disparo
o impulso
o motivo
a resposta das faltas

a presença
das dores
ausências
saudades
sorrisos
lamentos
a conseqüência dos atos
felizes
ou atrozes
das respostas doces
e das ferozes
das deliquências
demências
e loucuras
da falta de sentido
e de todo sentido
permitido
de todo modo
consentido
por esse verbo
- ora masculino,
ora feminino -
tamanho que é
e tão grande
que é chamado
paixão.

* Paixão em árabe.


Julio Carvalho

POR ONDE IR...


Nossa ética simples

O bem
Faz bem
O meu bem
Com bem vagar
Paciência bem vinda
Um sorrir bem estampado
Rompe teus lábios bem fechados
Da tua face abençoada pelo nosso suor
Com ar de satisfação, sossegas o teu bem feitor

Faço o bem para seguir adiante no teu caminho
Que mal esqueço teu passo bem dado
Quando nem bem passo adiante
Caio bem nos teus braços
Me abraça em bem
Marcho de bem
Ao meu bem
Traz bem
O bem

Por CilvaH

sábado, setembro 02, 2006

AVISTANDO A LUZ?












UM OLHAR SOL

a leveza é uma questão de observação
como olhar
olhar certo
o olhar certo
admira
olhar na mira do outro
acertar
definir o olhar
se fazer entender a olho nu
despercebido
como quem olha e despe
e não tira o corpo fora
deixando nenhuma sombra
nenhuma sobra de dúvidas
nenhuma escora
nenhuma demora em sobretudo
nenhum universo mudo
colocando tudo às claras
na luz
na forma
no gesto
no resto não fica nada escondido
fica tudo resolvido
cara a cara
sol profundo
uma descoberta um do outro:
iluminação.

Julio Carvalho

sexta-feira, setembro 01, 2006

SEGUE SECO


SUSPEITOS


Trapos e cheiro de coisa velha
Eu sou uma dúvida, uma suspeita
O medo me desanima
Certas prosas ainda incomodam meu humor
Eu não sei onde há um bom lugar
O certo lugar pra investir e me investir
Me vestir de paz

Quero colo (nada disso aqui)
Água para que eu pise na areia
Brisa para que eu repouse numa rede
Luz que inunde minha retina
Antes que eu chore diante de tua beleza
E da incerteza de te ter sempre e para sempre
Como somos para ti, como devemos ser

Não há mordaça que não incomode
(Por que eles nos fazem evitá-los?)
Não quero preterir, não quando prefiro
Quem fere sou eu, eu saio ferido
Entro nesta ciranda, fria roda morta
Gira sem esforço, gira de preguiça
Ninguém me faz d’outro jeito
No fim de tudo, faço do meu jeito
Faço da minha escolha, pelo que respondo
Jeito estéril de escolher e responder à vida

As flores já não trazem mais aquela desfaçatez
Perco o afã agora por não ter peito, dedos nem bedelho de descobrir este medo.

Por CilvaH, em São Paulo, 26 de agosto, começo de madrugada, de 2006

POLUIÇÃO LUMINOSA


Lume

Tenho saudades das noites vermelhas. Nelas vejo um pouco de nós. Não muito. Nelas enxergo o vazio resoluto. Meu desinteresse absoluto. Toda a aridez que desvenda este corpo nu. Ressecado pela umidade das noites vermelhas.

Anseio por tudo isto de novo. Novas lembranças antigas de noite. No reflexo de uma cor passional. Porque a lua deve irradiar noutro lugar. Talvez na tua varanda porque aqui ela traz mais penar. Outras saudades. Piores ainda.

A lua é pra quem se deleita, pra quem ama de perto, pra quem é consciente de sua felicidade...de seu destino.

Quero noites vermelhas.

CilvaH

VELAS PELO QUARTO DE NOITE


As velas trazem o que há de mais primitivo
O mundo, a soberba, o quase caos harmonioso lá fora
Porém cá, somente velas

Nada é comum ou imperceptível

Sinto saudades
Lembro boas lembranças
As velas trazem cheiro de mato, cheiro de sal
Ervas e o som de ondas a exautar o céu cravejado

As velas me rodeiam de madeira

Prosas simples e tacanhas
Entre olhares que se enxergam através da luz que vibra
Um som de chuva ou grilos ou nada
(somente a umidade no açaizal)

Estive com ela, com velas
Nem lembro ao certo
Certo é que não divido com ele
O breu desta vez

Mais afiado
Menos lúdico
Nada brejeiro
Quase desesperador
Todo destoante
Diante do mercúrio e do ruído dos motores

Sem lirismo ou intenção, velas só pra iluminar
Velas, enquanto durem, para eu enxergar
Pois perdi o ânimo...o êxito... e a luz própria.

CilvaH