quarta-feira, maio 31, 2006

ALGO PERMANENTE



Um texto menos atual, mas que retrata sensação parecida a que vivo hoje, quando a esperança teima em escapar.
Nem frio faz nesta madrugada do dia 14 de fevereiro de 2006 aqui em São Paulo.

Não me lembro bem o que acontecia há um ano. Sei que me preparava pra me despedir de todos que amava (ainda amo os mesmos, até mais uns). Ingênuo, pra não admitir outro adjetivo, cruel. Acreditava: destes todos, um poderia se dissipar. Não aconteceu. Aprendi uma então novidade logo depois, me convenci que amar é atividade estritamente (sobre) humana, independe de tempo, de espaço ou de força maior.

Ainda me questiono e pauso e penso varias vezes antes de delimitar minhas afirmações e concepções acerca deste sentimento. Melhor pensar de menos. Melhor escrever e descrever minhas sensações hoje... agora.

Escrevo pra te dizer que tua ausência me mata um pouco. Sim, me tira a vida lá de fora, me aprisiona nas lembranças tuas por cada metro cúbico deste meu e porquê não nosso espaço, tão impregnado dos teus passos, do teu sono, do teu olhar com ou sem lágrima, do teu riso com ou sem ironia.

Escrevo pra tentar deitar e dormir nesta quase manhã que ameaça romper sem te ver aqui do meu lado, na minha frente ou por cima de mim. Dificilmente! Ainda vou derramar muito deste choro ali. Porque me encaixo rápido e aprendo mais rápido ainda, como sei que sei até melhor do que tu a acatar os revoltantes hiatos entre nossos encontros. Mas não há hábito que sobreviva a costumes novos, curtos, menos freqüentes e muito melhores.

Desaprendo. Ignoro tudo, todos os caminhos sabidos quem me levem longe-perto de ti. Quero-te perto e perto. Rebelo. Porque sobreviver à distância é acatar e se negar a qualquer possibilidade que não a de te ter de qualquer jeito. Mas se despedir sem o verdadeiro desejo de implodir o mundo é se resignar diante da realidade inevitável. Ainda que o mundo seja bem maior do que tudo isso. Ainda que mesmo assim, ele não possa com a gente.

Estes fevereiros de carnavais se repetem duramente há algum tempo pra quem viveu pouco mais de duas dezenas deles. Amar, lutando mesmo que o bloco esteja lá fora e nem a janela não me pareça um atrativo. Prefiro assim, sem folia de trio, mas na cadência de nós dois.

Escrevo porque bato meu tambor aqui e ele soa, alcança muito longe. Escrevo porque os ecos deste ressoar chegam nos teus ouvidos em qualquer lugar. Escrevo porque choro, entalo, limpo, sufoco, inspiro, deixo subir e deixo lágrimas descerem. Escrevo pra retardar o irremediável dormir sozinho.

Lembra do que Jobim cantou ontem pra gente: ‘cada volta tua (ou minha) há de apagar o que essa tua ausência me causou’.

Até. Logo. Espero.
CilvaH

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