quarta-feira, maio 31, 2006

SOBRE A RAIVA...

Uma adaptação...

Eu tenho raiva.
Eu ando com muita raiva.
Ainda mais sabendo que as pessoas quase não sabem mais amar
e mordem em vez de beijar e batem em vez de acariciar.
Talvez porque percebam como é fácil o amor deteriorar de repente.
Assim ele torna-se impossível, impraticável.
Então as pessoas o evitam e procuram consolo na raiva,
no medo ou na agressão que são coisas que estão sempre à mão e disponíveis.
E talvez, às vezes, não saibam de todos os fatos.
Raiva e ressentimento podem bloquear o caminho da gente.
Eu por exemplo, ainda não aprendi muito bem a lidar com isso.
Tenho ainda algum ódio a ser desperdiçado. Jogado fora. No lixo mesmo.
Ódio por muitas coisas. Internas. Externas. Mesquinhas. Poucas. Incômodas.
Bem chatas. Ódio, por exemplo, quando as coisas não são como a gente quer, quis, queria.
E eu queria transformar isso. E desejaria não ter que fazer isso sozinho.
Que não tivesse realmente de ter que fazer isso sozinho.
Com alguém por perto seria bem mais fácil, mais doce, mais calmo.
Eu sei disso. Porque as coisas não são como a gente quer. E a raiva é inflamável, sabia?
Para incendiar a raiva, basta o ar e a vida e a raiva engole e sufoca ambos. E é real. A fúria.
Mesmo quando não é real pode mudar você. Transformar.
Moldar você, fazendo de você algo que você não é, e nem gostaria jamais de ser.
Então o outro lado dessa história toda é a outra pessoa que você se torna.
Um dia ainda vai acontecer de alguém, podesereu,
acordar e perceber que não tem medo da sua jornada.
Vai entender que a verdade, na melhor das hipóteses,
é uma história mal contada e que a raiva, como o crescimento,
perdas e ganhos da vida, vêm em jatos deixando em seu caminho
uma nova possibilidade de aceitação. E uma promessa de calma.
Um mar pós tempestades. Eu quero essa calma de volta.
Alguém que me traga de volta. Alguém com amor. Sem raiva. Só amor.
Exclusivamente.
Mas no final, o que é que eu sei realmente sobre tudo isso?
Sou só uma criança de 40 anos...

Júlio Carvalho

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